José Maria e a [Insert random bullshit] da vida.

Chuva de meteoros devastando sua varanda. Chuva de dólares acumulando no seu quintal. E se tudo isso estivesse acontecendo de verdade na casa de José Maria, ele continuaria ali, indiferente. Que droga.

Acredito que para Deus, Zé é uma verdadeira falta de respeito com o espaço, com os metros cúbico de carne, de energia, de matéria e espírito que o universo lhe reservara.

Como podem as pessoas irem tão fundo assim? E ainda por cima continuarem cavando o poço sem fundo. A que ponto de degradação chega a condição humana. Um corpo de três dias jogado numa vala passaria uma melhor impressão do que a de José estirado em sua cama.

O que lhe restava após mais um final de semana desperdiçado no sofá, era uma bela de uma ressaca existencial. Seja lá o que isso for - confessou a si mesmo ao adentrar nesses aspectos filosóficos da vida que a sua vã filosofia insistia em alimentar para desespero seu próprio.

E agora, a sensação de vazio nessa manhã de segunda, enche a sua cabeça de desespero, tristeza, e Zé quer chorar mas não consegue. Chora Zé, por favor, vai te fazer bem - se aconselha. Grande conselho. Você é grande Zé. Você é o maior do mundo. Seus olhos umedeceram.

Absolutamente nada planejado para o dia que começava. Por Deus, chora Zé, chora. Uma lágrima está ameaçando sair dos seus olhos marejados, combina com marujo, já sonhou em ser um, a lágrima caiu.

Tinha vocação pra ser sonhador, pra sair do chão precisava pouco e quem o conhecia sabia dos seus delirantes pensamentos a respeito de qualquer coisa. Mas parece que esses requisitos não são levados muito em consideração pelo mercado, por isso quando pensou colocar esse “diferencial" no seu currículo, foi logo se censurando graças a uma intervenção do seu raro bom senso.

Podia exprimir opinião de uma gama de assuntos, era um generalista nato. E quando viajava, no segundo melhor sentido da palavra, tinha mil idéias imaginativas, parecia que a loucura lhe soprava aos ouvidos e as conversas passavam a fluir no encanto das entrelinhas.

Essa facilidade com o mundo das idéias não lhe trazia tantas benefícios, muito pelo contrário, acabava distorcendo a realidade, a crua e sem sal realidade que todos acabamos tendo que aprender a lidar, ele não lida, tem um contra gosto dos infernos.

Que solidão Zé. "Solidão é larva... Que cobre tudo..." Vê se liga pra alguém Zé.

Os Dadaístas Sem Ópio Estão Chegando


O que segue a baixo é um e-mail enviado pelo meu colega Eduardo Machado, em uma de suas tentativas de se corresponder comigo para que déssemos início ao nosso projeto de escrever uma história a quatro mãos, ou seja, dois autores se apoderam do mesmo texto e vão escrevendo a seu bel prazer, geralmente um escreve um pedaço, daí o outro continua dali, e assim por diante. Fica mais claro lendo o que ele escreveu no e-mail:

Olá Pedro.
Eu imaginei escrever como um "Cadáver Delicado", não sei se você conhece? Os dadaístas fumavam ópio e escreviam uma frase poética numa folha de papel e dobravam. O próximo escrevia outra frase sem ver a outra e assim ião até comporem um poema doido. A diferença é que nós não usamos drogas e acompanhamos o crescimento do texto podendo mexer nele à vontade.

Mas eu pensei o seguinte: a gente podia primeiro criar uma personagem interessante que possa dar manga a uma boa história. Assim eu te mando uma personagem incompleta e você a aprimora, tirando ou colocando elementos à vontade.

Lembra que a gente pode brincar com o texto como quiser, já que ambos tem o direito sobre ele. Ou ainda, trabalhar com dois textos ao mesmo tempo, eu começo um e você outro, assim os dois poderão ser ativos, mas com a responsabilidade de trabalhar o texto do outro.
Pense aí e mande uma idéia sua que eu me viro aqui!
Mas aí vai uma idéia de personagem:

"Amanda, 12 anos, é uma menina muito calada. Seus grandes olhos negros entregam o olhar observador entre suas mechas lisas. Órfã dos pais, vive com a avó, uma senhora muito ocupada e de pouca sensibilidade. Mora em um grande casarão por onde corre com seus vestidinhos muito elegantes pra sua idade. Tem pouco relacionamento com os empregados da casa que aparecem e vão como fantasmas..."

Pensei em outra coisa também. Será que ficaria mais fácil se decidíssemos a linha dramática: fantástica, realista, cômica, sei lá, que tipo de texto você prefere escrever?
Termina de compor essa personagem pra mim e manda outra incompleta ou um texto em produção já, vamos nos exercitar que a gente chega lá.

FIM DO E-MAIL

Agora com a palavra, eu. Darei continuidade a história acima:

...que aparecem e vão como fantasmas pelos corredores do casarão, impedidos expressamente pela Sra. Ana Dulce Lobo Andrade, de manterem intimidades com a sua neta.

A drástica medida foi imposta na casa, após a Sr. Andrade ter presenciado Amanda, chamando a própria babá de Mãe. Já não fosse isso suficientemente constrangedor, a cena se passou durante um dos tradicionais jantares oferecido aos amigos ricos e importantes da família.

Na madrugada daquela noite, a babá, que por ironia do destino também se chamava Amanda, chorando, entrava em um rolls royce preto, onde o chofer da família a aguardava com ordens de largá-la na casa dos seus pais.

O sumiço repentino da sua querida xará não passou despercebido pela olhos desconfiados da herdeira dos Lobo Andrade, sabia que aquilo tinha haver com o que escapara da sua boca.
Sentia culpa por ter amado sua babá, e a partir daqueles dias amaldiçoou o amor, e se tornou uma menina amarga.

O casarão é um belo exemplar de arquitetura neoclássica datado de 1910. Na construção, o que mais se destaca é a dupla escadaria de mármore, que desce do grande pórtico da casa e termina em um elegante chafariz. O móvel todo é de um azul escuro desgastado pelo tempo, e que torna seu aspecto um tanto sombrio.

Por mais de 40 anos abrigou o Colégio Sacré-Coeur de Jesus. E após um trágico incêndio no interior do Colégio, não voltou a funcionar e foi posto a venda.

Muitos anos se passaram sem qualquer oferta de compra, até que o inteligente investidor Dr. Jorge Andrade Lobo Filho arrematou aquele imóvel. O avô de Amanda, naquela época o ainda jovem Lobo Filho, não acreditava nos boatos que se diziam a respeito do casarão ser mal assombrado, "Isso é pura imaginação popular, não passam de lendas...", contestava às inúmeras tentativas de Ana Dulce, sua recente noiva, ao tentar impedi-lo de comprar o tão mal falado imóvel.

Dentre as dezenas de cômodos, existe um preferido de Amanda, o sótão, lá ela guarda...

Aqui termina a minha parte da história, deixo as reticências para que o Eduardo Machado continue. Você que lê isso, também pode continuar a escrever essa história se assim desejar, seja bem-vindo aos dadaístas sem ópio. Deixe a sua criação nos comentários. Até mais.

destinos prediletos


Acho que descobri algo em comum em todos os autores. Dizem que é o ego inflado, mas não, não é isso - embora concorde em gênero, cor, número e grau que a vaidade dessa raça não é a melhor da suas virtudes.

A minha descoberta é a respeito de um assunto bem menos esnobe. Muito pelo contrário, chegaria até ser nobre, se não fosse tão usual.

Bem, aviso aos navegantes que não é nenhuma descoberta da roda no universo literário. Digo apenas que gira em torno de um dos destinos prediletos dos que vivem a escrever. Dizem que é Paris, mas isso é outra história.

Tamanha é a indagação, que uma cabeça (ao menos dessa que lhes escreve) não seria capaz de chegar a uma explicação coerente, por isso, deixo a pergunta para vocês responderem.

Porque todos os escritores – dos imortais aos fracassados, e também daqueles que não se atrevem a se considerar autores, mas se atrevem a produzir textos - adoram debruçar-se sobre o já surrado assunto do ato de escrever, redigir, compor, chamem do que quiserem, mas me digam, porque essa obsessão?

Busque em sua memória - em sua memória instantânea, já que o gajo aqui está no olho do furacão desse tema -, a quantidade de textos que tiveram como matéria de reflexão a escrita.

Afirmo que depois de amores não correspondidos entre americanos e belas francesinhas, essa é a maior vedete dos escritores. Bem, agora me deixa pôr ponto final nessa história, porque acaba de me surgir uma brilhante idéia para um romance.

Quando desembarcou no aeroporto Charles de Gaulle, Pedro jamais poderia imaginar o que o destino lhe guardava...

Bic sem Carga - primeiro episódio


É incrível como é difícil achar uma maldita caneta e uma mísera folha de papel quando se mais precisa delas. Especialmente canetas, deve haver alguma força estranha que as esconde de nós, uma conspiração do universo que nos deseja impedir de escrever, mas porque razões? Agora, quando você não tá nem aí pra elas, surgem aos montes. Ainda jogarei um olhar mais atento sobre este fenômeno que logra a humanidade.

Mas peguemos a esquerda depois do viaduto, para nos mantermos na via principal dessa, adianto-lhes, tragicômica, mas acima de tudo fantástica história que transcreve as minhas experiências vividas após pôr em prática um projeto de ano novo. Que queime no inferno o inventor desse hábito de fazer promessas de ano novo!

Depois de tanto procurar pela casa, acabei encontrando uma caneta. Judiaria, era uma Bic sem a tampa da ponta, sem a tampa traseira e aparentemente sem carga, pois o canudo de tinta estava tão transparente quanto o corpo da caneta, por isso a cor da surrada Bic ainda era um mistério para mim.

Em compensação, a mísera folha que procurava saiu melhor que a encomenda. Deparei-me com um caderno desses universitários não sei quantas mil matérias – duvido que algum curso tenha tantas matérias, como diria um amigo meu, ´Isso é jogada de marketing´, para ele, o mundo todo era uma jogada de marketing.

TO BE CONTINUED...

De outra vida



Esse post não começa com nenhum parágrafo interessante para te prender até o fim.

Já passou muito tempo como vê, ficou uma janela no tempo, uma semana sem dar as caras por aqui, sem sujar a pena de tinta. É uma pena pra mim mesmo.

Mas chega de lamentar o que não aconteceu, se me prestasse a esse serviço, acho que precisaria de outra vida para poder lamentar toda essa.

Eu sou assim mesmo, uma montanha russa, horas lá em cima, dedicado, outras vezes, estacionado lá na entrada esperando os passageiros para mais uma volta. Altos e baixos. Mais baixos com certeza.

Mas vamos ao que interessa, chegou à hora de tentar bolar um conto para colaborar com a literatura universal. Primeiro, um título. Assim fica registrado de antemão o que falarei, usando desta artemanha não corro o risco de degringolar a história, vai me dar foco, lá vai:

DEIXA PRA OUTRO DIA

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