Teodoro Iorrane - Capítulo 1


Não levanta da cama. O despertador tocou e Ted indiferente sem abrir os olhos, o reprograma.

Há um tempo atrás resolveu pegar pesado, configurou um novo toque no despertador do celular de 666 funções que só prestavam para poucas músicas de jazz.
Seu sono era demasiado profundo para a nona de Beethoven que já vinha de fábrica. Resolveu isso mudando para um toque do som do estouro de um grande prato metálico.

Quando descobriu esse som dizia para si mesmo em voz calada “Me lembra um chineizinho de olhos puxados naqueles espetáculos orientais dando uma cacetada no gongo...

Faz-se um silêncio mortal e... Trilha sonora (entra uma típica musica oriental de abertura) Tam tarantarantam tam tam tam 2X...

Entram no palco duas concubinas com seus passos tímidos, escondendo as risadas em um leque com desenhos de tigres com grandes garras, os tigres fazem elas pararem de rir... Gritos, urros,sangue e mais sangue ”.

Assim funcionava a cabeça de Ted. “Você viaja hem?” falavam volta e meia para ele. Gostava de ouvir isso, entretanto, suspeitava da intenção do interlocutor.

Toca outra vez o gongo. Rereprograma, agora conferindo às horas.
A terceira gongada vem e Ted já demonstra algum sinal de esforço. Segura o telefone celular com as duas mãos e fica assim um tempo o observando.
O travesseiro é de pena de ganso, dá o relevo perfeito para estender a cabeça em berço esplêndido; o edredom volumoso e azul claro abraça seu corpo na cama de casal; o ar condicionado geladinho em parceria com o edredom quentinho cria o útero. Não dá pra resistir ao coforto, Ted desmaia, o telefônico cai no chäo. Ele parece ter quebrado. É hora de levantar.

Vai ao banheiro faz o básico. No quarto não repara na bagunça e as primeiras fichas começam a cair: ele não tem o que fazer; não sabe o que fazer; gasta seu tempo pensando nisso; o café já esta servido.

Descendo as escadas lembrou quase na íntegra das palavras do livro de ontem “O tempo está se esgotando para mim, já estou bem maduro para a colheita da vida a qual desejo estar longe”.
Suspira e desenha a antítese daquela frase em sua biografia, “sobra-lhe tempo e por isso sua vida se esgota”.

Ao chegar ao térreo, pensa nesse minuto de sabedoria que lhe atravessou as idéias, e sem chegar a moral alguma, acha a maior sacanagem ter pensado aquilo à uma hora dessas da manhã. Já é quase almoço, mas para Ted é sempre manhã quando se acaba de acordar.

Um comentário:

  1. Ae contista taes me saindo muito bem garoto vai nessa q é bom a beça. braçonhas

    ResponderExcluir

Comente