Amigas Imaginárias

Fez-se silêncio


- Veja, um anjo passa. - disse Manu.
Era doce como toda Manuela deve ser.

- Como é? - perguntou Clara sem entender bulhufas.
Era meio avoada, não como todas as Claras devem ser. Minha Mãe, que Deus a tenha, era muita antenada.

- É uma expressão. Vocês nunca ouviram falar? - sem esperar resposta Manu continuou.

- Dizemos isso quando do nada todos se calam, quando um silêncio misterioso e constrangedor desabam sobre a gente.

Manu vivia escolhendo as palavras a dedo, seu modo rebuscado de falar já lhe valeu até o apelido de professorinha, não gostava de ser chamada assim, mas no fundo, mesmo desconfiada, o apelido dava de comer a seu ego.

E o anjo continuou a rondar o ambiente, porque depois da explicação da Manu, a Clara e também a Dina e a Rúbia, que fazem parte da trupe e estavam ali presentes no show, ficaram mais quietas ainda. Provavelmente ficaram procurando o tal ser celestial que a Manu evocara.

Durante o blackout de palavras Manu aproveitou pra se distrair com seus pensamentos. Imaginou a figura de um Anjo, viu suas asas, sua espada e seu ar de santo. Deslumbrou-se com a quantidade de penas que cobriam suas asas, ainda mais quando notou que seu anjo não tinha penas brancas e sim prateadas como se fossem forjadas em aço puro.
A curiosidade onírica de Manu foi aumentando, continuo a ver mais elementos e detalhes que normalmente se atribuem a um Anjo. E foi deixando sua imaginação correr solta a ladeira abaixo. Um erro.

Assistiu um Anjo descomunal ganhar vida e se movimentar a sua frente. Olhou com que requinte de crueldade sua espada atravessou os corpos de suas amigas. Naquele frenesi Clara só teve tempo de apertar bem os olhos para ver se acabava com a alucinação, mas há certos lugares da mente de onde não se volta.
Depois das trevas, a luz.

- O silêncio não acabava nunca, tive que intervir. – falou o Anjo piscando um olho para a Manu.

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