Joe, era assim que os outros lhe chamavam. Joeberson não caia bem.


Era um cara jovem. Diríamos entre jovem e adulto, ele não ultrapassou essa linha divisória imaginária, esse trópico de câncer. Acho que ele se encontrava - se é pra usar essas geo-analogias - em algum lugar entre o Alasca e a Califórnia, ou seja, tem um bom chão pela frente.

Como eu ia metralhando, se tratava de uma pessoa comum. Mediano em todos os sentidos. Bem poderia passar por um de nós. Aliás, creio que ele é um de nós. Essa querida criatura nada mais é do que um personagem fazendo às vezes de você ou de mim mesmo. É uma espécie - rara espécie, diretamente de Galápagos, um ser estranho mesmo -, uma criatura que serve de joguete pra dissimular a minha e a sua personalidade nessa história, e assim dar conta de suprir nossa falta de existência, jogando-nos ao fantástico mundo das invenções e inventices que só aqui se faz presente e em lugar nenhum mais. Enfim, somos o Joe, e o Joes ainda pretendem entender o que significa tudo isso.

Joe era fogo, escutava coisas, fala coisa com coisa e num fazia coisa nenhuma. "Para você ver como são as coisas" – costuma dizer sobre os acontecimentos ao qual não tinha a menor noção.

Um belo dia – mesmo estando chovendo horrores lá fora – Joe inventou de escrever:

Tudo estava indo bem na narrativa de Joe, seus dedos corriam pelas teclas à medida que as idéias brotavam em sua mente, palavras fluíam ainda sem destino certo, mas o importante é que linha após linha Joe conseguia contar sua história. Entretanto, surgiu algo mais “importante” pra fazer, era o trabalho que começava às oito da manhã. Precisou abortar às pressas suas inventices.
Pobre Joe, não teve tempo nem de esquentar o teclado.
Foi bom enquanto durou – pensou Joe, e assim sendo, aproveitou a deixa para dar ponto final.

2 comentários:

  1. opas pedro!
    caso sério o tal do trabalho..
    me identifiquei com seu texto cara!!! kakakaka
    o trabalho as vezes é uma bomba relógio..belo retrato!
    obrigado por passar la no textosterona e por me comparar a uma figura tão ilustre..me senti honrado. aonde voce descobriu o blog ?
    passarei mais vezes por aqui tb.
    grande abraco e mto prazer!

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  2. Bacana, gostei das ironias espalhadas pelo texto... Além disso, achei legal você revelar que o Joe não passa de uma dissimulação do homem comum... Os artistas adoram criar um protagonista de fácil identificação para o público, mas não lembro de outra ocasião em que tal recurso tenha sido revelado na própria obra, até com uma certa crítica! hehe Finalmente, também achei interessante o conflito entre trabalho x indivíduo, quando o Joe começou a tentar ser alguém diferente, quando tentou fazer algo diferente, quando ele teve uma oportunidade de deixar de ser o estereótipo do "homem comum", apareceu o trabalho para atrapalhar... Infelizmente, situações assim acontecem cada vez mais no mundo...

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