Os Dadaístas Sem Ópio Estão Chegando


O que segue a baixo é um e-mail enviado pelo meu colega Eduardo Machado, em uma de suas tentativas de se corresponder comigo para que déssemos início ao nosso projeto de escrever uma história a quatro mãos, ou seja, dois autores se apoderam do mesmo texto e vão escrevendo a seu bel prazer, geralmente um escreve um pedaço, daí o outro continua dali, e assim por diante. Fica mais claro lendo o que ele escreveu no e-mail:

Olá Pedro.
Eu imaginei escrever como um "Cadáver Delicado", não sei se você conhece? Os dadaístas fumavam ópio e escreviam uma frase poética numa folha de papel e dobravam. O próximo escrevia outra frase sem ver a outra e assim ião até comporem um poema doido. A diferença é que nós não usamos drogas e acompanhamos o crescimento do texto podendo mexer nele à vontade.

Mas eu pensei o seguinte: a gente podia primeiro criar uma personagem interessante que possa dar manga a uma boa história. Assim eu te mando uma personagem incompleta e você a aprimora, tirando ou colocando elementos à vontade.

Lembra que a gente pode brincar com o texto como quiser, já que ambos tem o direito sobre ele. Ou ainda, trabalhar com dois textos ao mesmo tempo, eu começo um e você outro, assim os dois poderão ser ativos, mas com a responsabilidade de trabalhar o texto do outro.
Pense aí e mande uma idéia sua que eu me viro aqui!
Mas aí vai uma idéia de personagem:

"Amanda, 12 anos, é uma menina muito calada. Seus grandes olhos negros entregam o olhar observador entre suas mechas lisas. Órfã dos pais, vive com a avó, uma senhora muito ocupada e de pouca sensibilidade. Mora em um grande casarão por onde corre com seus vestidinhos muito elegantes pra sua idade. Tem pouco relacionamento com os empregados da casa que aparecem e vão como fantasmas..."

Pensei em outra coisa também. Será que ficaria mais fácil se decidíssemos a linha dramática: fantástica, realista, cômica, sei lá, que tipo de texto você prefere escrever?
Termina de compor essa personagem pra mim e manda outra incompleta ou um texto em produção já, vamos nos exercitar que a gente chega lá.

FIM DO E-MAIL

Agora com a palavra, eu. Darei continuidade a história acima:

...que aparecem e vão como fantasmas pelos corredores do casarão, impedidos expressamente pela Sra. Ana Dulce Lobo Andrade, de manterem intimidades com a sua neta.

A drástica medida foi imposta na casa, após a Sr. Andrade ter presenciado Amanda, chamando a própria babá de Mãe. Já não fosse isso suficientemente constrangedor, a cena se passou durante um dos tradicionais jantares oferecido aos amigos ricos e importantes da família.

Na madrugada daquela noite, a babá, que por ironia do destino também se chamava Amanda, chorando, entrava em um rolls royce preto, onde o chofer da família a aguardava com ordens de largá-la na casa dos seus pais.

O sumiço repentino da sua querida xará não passou despercebido pela olhos desconfiados da herdeira dos Lobo Andrade, sabia que aquilo tinha haver com o que escapara da sua boca.
Sentia culpa por ter amado sua babá, e a partir daqueles dias amaldiçoou o amor, e se tornou uma menina amarga.

O casarão é um belo exemplar de arquitetura neoclássica datado de 1910. Na construção, o que mais se destaca é a dupla escadaria de mármore, que desce do grande pórtico da casa e termina em um elegante chafariz. O móvel todo é de um azul escuro desgastado pelo tempo, e que torna seu aspecto um tanto sombrio.

Por mais de 40 anos abrigou o Colégio Sacré-Coeur de Jesus. E após um trágico incêndio no interior do Colégio, não voltou a funcionar e foi posto a venda.

Muitos anos se passaram sem qualquer oferta de compra, até que o inteligente investidor Dr. Jorge Andrade Lobo Filho arrematou aquele imóvel. O avô de Amanda, naquela época o ainda jovem Lobo Filho, não acreditava nos boatos que se diziam a respeito do casarão ser mal assombrado, "Isso é pura imaginação popular, não passam de lendas...", contestava às inúmeras tentativas de Ana Dulce, sua recente noiva, ao tentar impedi-lo de comprar o tão mal falado imóvel.

Dentre as dezenas de cômodos, existe um preferido de Amanda, o sótão, lá ela guarda...

Aqui termina a minha parte da história, deixo as reticências para que o Eduardo Machado continue. Você que lê isso, também pode continuar a escrever essa história se assim desejar, seja bem-vindo aos dadaístas sem ópio. Deixe a sua criação nos comentários. Até mais.

4 comentários:

  1. Caríssimo,

    não darei continuidade na história por ora. Prefiro deixá-la para uma outra alma mais inspirada que eu. Mas não é por falta de vontade, e sim, porque não desejo anuviar seu texto com o cinza de minha mediocridade momentânea.

    No mais, sua ideia me parece muito boa e sedutora. Vários autores puxarão linhas diferentes de raciocínio e, cabalmente, desfecharão um começo, cujo projetado por você não acontecerá!

    Parabéns pela ideia. Continuarei acompanhando seu blog. Vc já é referência no Da Prosa. Veja lá. Espero que o Da Prosa ganhe espaço aqui também.

    ResponderExcluir
  2. Ola!

    Amei a idéia e me coloco curiosa atrás de meu computador aguardando o desenrrolar dessa história.
    Quem sabe um outro dia colabore com ela, por enquanto estou a apreciá-la.

    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Ah, cadê o restante da história?
    Curiosa de mais!

    ResponderExcluir

Comente