BlogBook - (cena 03)


Vejo Alex entrar no meu quarto vestindo apenas um shorts que um dia já foi branco, mas que agora estava mais vermelho do que aqueles torniquetes que estacam hemorragias.
Chega a um passo de mim, fica cara a cara, sinto o cheiro do sangue e o calor da sua voz me ordenando:

- Arrume suas coisas Lúcio, nós vamos partir.

Penso comigo mesmo: Seria melhor agora ir até até a gaveta, puxar meu revólver e matá-lo, antes que eu tenha o mesmo fim do sujeito que serviu de tinturaria para o shorts de Alex.
Deixa pra lá, eu morreria antes mesmo de ter a chance de pegar a arma. Apenas viro para ele e pergunto:

- O que aconteceu cara? Você matou alguém? - me dou conta de que a segunda pergunta não passa de pura retórica.

Ele balança a cabeça confirmando:

- E não foi só um.

Começa a caminhar em círculos pelo quarto com uma indiferença assustadora. Era o mesmo passo tranqüilo e elegante de quando o vi pela primeira cruzando os corredores da biblioteca ao lado de Flávio Culto. Nesse instante Culto me vem a cabeça. Ele já devia ter me ligado.
Me despeço desse pensamento, não é hora pra isso.
Estou louco pra saber mais, e com toda a humildade que não é do meu feitio, falo :

- Me conta alguma coisa Alex

Enquanto aguardo a resposta sinto
uma leve vertigem. O piso, a porta, o quarto e tudo mais vão ganhando tons de cinza. O momento, como que por magia, entra em slowmotion. Eu sei o que se passa por aqui, é mais uma vez a maldita voz que vem susurrar nas minhas idéias. Há muito tempo convivo com esse fenômeno psíquico, já m receitaram remédios mas sou arredio. Mas tudo tem um preço, recentemente essa personalidade intrusa vem aparecendo com muita frequência. Esse ''hospedeiro'' pergunta por Alex: - Como um homem nestas condições consegue manter a mesma elegância de sempre Lúcio? Ele não é lindo? Repita lentamente comigo: Lindo, lindo, lindo. Começo a abrir a boca, vou acatar as manipulações do sedutor hospedeiro. Não, ele é um maldito, um maldito e pronto.
Exorciso o intruso e volto ao controle.
Outra voz me invade, mas agora é real, vem de fora:

- Não tenho tempo pra - Alex ensaia um sorriso - matar sua curiosidade. Acordei todo o hotel, vamos dar o fora daqui o mais rápido possível.

Eu ia perguntar quem ele tinha pipocado, mas me segurei, não posso contrariar um sujeito desse, que pelo visto é tão absurdamente doente de alucinado que faz meu probleminha de desvio de pensamento parecer ser doce. Então fiquei na minha, o homem elegante era intimidador a ponto de fazer eu controlar a minha respiração pra não desagrada-lo, e o seu 1,92m de altura somado a sua 9mm faz eu rezar pra que ele não resolva abrir a gaveta da escrivaninha e ve o meu brinquedinho.
Insisto:

- O que houve?

Mais da mesma indiferença:

- Me encontre no orelhão em frente ao hotel, seja rápido e eu te conto a história.

Antes de desaparecer pelo corredor me dirige as palavras:

- Quer um conselho grátis? Não vá até o quarto.

Ele sai do meu quarto batendo a porta como quem diz siga o meu conselho.

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